A sociedade digital: os novos desafios e os novos paradigmas dos educadores. Sevcenko. Millennials: a nova geração. Parte de monografia. Interessante vídeo: We all want to be young.

         

 O educador deve considerar o mundo em que seus alunos estão inseridos e utilizar os meios necessários para deixar as aulas relevantes. É inevitável considerarmos o mundo em que eles estão inseridos, suas novas necessidades, novos desafios e novos paradigmas.

  •  “ Pode-se dizer que desde a Revolução Científico-Tecnológica até os anos 70, a tendência histórica foi que os Estados nacionais controlassem a economia e as grandes corporações, impondo-lhes um sistema de taxação pelo qual transferiam parte dos seus lucros para setores carentes da sociedade, organizando assim uma redistribuição de recursos na forma de serviços de saúde, educação, moradia, infra-estrutura, seguro social, lazer e cultura, o que caracterizou a fórmula mais equilibrada de prática democrática, chamada “Estado de bem-estar social”.
  • “Com a globalização, porém, essa situação mudou por completo. As grandes empresas adquiriram um tal poder de mobilidade, redução de mão-de-obra e capaciade de negociação – podendo deslocar suas plantas para qualquer lugar onde paguem os menores salários, os menores impostos e recebam os maiores incentivos -, que tanto a sociedade como o Estado se tornaram seus reféns. O tripé que sustentava a sociedade democrática moderna foi quebrado. A situação se reconfigurou…” [1]

             As décadas de 80 e 90 foram as principais para o advento do computador para o âmbito pessoal. Marcas como a IBM, Microsoft, Next e Apple introduziram os computadores nos ambientes de grande porte e nos ambientes de pequeno porte. O vale do silício possibilitou a popularização e a miniaturização dessas tecnologias de forma a colocá-las à disposição de um público cada vez maior.

            Os celulares de hoje possibilitaram trazer não só a telefonia móvel para um grande público, mas também trouxeram uma nova tendência de convergência de tecnologias, colocando a internet literalmente na ponta dos dedos de praticamente todos.

            Essa possibilidade de conexão virtualmente infinita fez com que a sala de aula transcendesse o mero espaço físico da escola e fosse transferido para algo além e mais amplo. As redes sociais, por exemplo, são instrumentos de disseminação de ideias  que adquiriram uma relevância cultural sem precedentes e se tornaram instrumento crítico de mobilização, de crítica e até mesmo de mudança estruturais que vão desde de simples intervenções sociais de amizades até macro mudanças como foram as conhecidas como as chamadas ‘primavera árabe’ que começaram em 2005 com a Tunísia. Possíveis graças à sociedade digital em que vivemos, a famosa ‘revolução das mídias sociais’.

            Claro que com tantas possibilidades e com grandes quantidades de informações, também vêm grandes problemas. Adolescentes, principalmente, devido à própria fragilidade da idade, e com essa grande quantidade de acesso a informações e contatos praticamente infinitos, tendem a desenvolver disfunções psicológicas como comportamentos hiperbólicos, comportamentos anti-sociais, agressivos ou compulsivos; criando novos desafios para que sejam tratados e lidados adequadamente.

            Participam da chamada Aldeia Global que, segundo Patricia Peck Pinheiro[2], em que “todos estão conectados em uma única aldeia e, ao mesmo tempo, têm a possibilidade de agir, como nunca antes na história da humanidade, como indivíduos.” Virginia Woolf [3] em seu diário de 15 de novembro de 1918, mostrara que o fim da guerra havia tornado os cidadãos mais uma vez uma nação de indivíduos. Parece que vivemos uma semelhança de períodos, salvas as devidas proporções, em que paradigmas foram tombados, os inimigos não estão totalmente definidos, mas há algo em comum que permanece no ar e incomoda: a individualidade cada vez mais à tona que parecia ser anunciada nos diários de Woolf em 1918, e tomou corpo bastante significativo no nosso século XXI:

Peace is rapidly dissolving into the light of common day. You can go to London without meeting more than two drunk soldiers; only an occasional crowd blocks the street. But mentally the change is marked too. Instead of feeling that the whole people, willing or not, were concentrated on a single point, one feels now that the whole bunch has burst asunder and flown off with the utmost vigour in different directions. We are once more a nation of individuals.”

            Parece corroborar para tanto também, Nicolau Sevcenko, quando diz:

  •  “…novo credo neoliberal: “não há e nem nunca houve essa coisa chamada sociedade, o que há e sempre haverá são indivíduos.”[4]

            O grande papel que a juventude individualista de hoje tem origina justamente na geração Baby Boomers. Esta geração nasceu logo depois da II Guerra Mundial, nos anos 40 e nos anos 50. Um tempo de  mudanças que atingiu o ápice nos anos 60. A geração X, nascida nos anos 60 e 70, teve os privilégios conquistados pela geração anterior e ficou conhecida como uma geração muito competitiva. A geração conhecida como millenials[5] é a que temos atualmente e promovem um consumo globalizado com conexões estéticas e comportamentais com outros jovens pelo mundo.

            Se os hábitos comportamentais são semelhantes, também o são os problemas, como ansiedade crônica, problemas para a escolha dos filtros corretos para organizar suas experiências devido ao imenso número de pessoas e de conteúdos em suas vidas. Isso, acabou por desenvolver nessa geração uma maneira não linear de pensamento que é típica da internet, notadamente nos alunos adolescentes, nos quais é possível perceber a falta de concentração e de foco nos assuntos mais tradicionais e por isso a necessidade de uma abordagem que fosse mais ao encontro dos anseios e modo de pensamento que são peculiares a eles.

            Para esse tipo de geração é natural começar em algo e terminar em algo completamente diferente. A necessidade de uso da internet em sala de aula vem ao encontro dessa necessidade e tem sido adotada de forma bem-sucedida ultimamente, pois a aula transcorre de acordo com a natural curiosidade não-linear e hiper-textual dos alunos, o que faz de uma aula completamente diferente de outra devido à curiosidade própria de cada grupo.

            Nos anos 80 era bem clara a distinção de grupos. Você ou era uma coisa ou outras. Nos anos 90 essa distinção já não era muito clara. Hoje temos uma geração extremamente plural, talvez a mais plural da história, a qual tem um trânsito muito tranqüilo entre as várias tribos e se sente à vontade fazendo isso, gostando pouco de rótulos e de ser rotulada, ou tendo o rótulo como algo bastante temporário.

            A maior possibilidade de utilização da rede social fez com que essa geração se envolvesse num número cada vez maior de pequenos relacionamentos de curta duração. Fato que também é visível em suas carreiras, nas quais sistemas tradicionais hierárquicos perdem força e cada vez mais há a preocupação de unir trabalho e prazer. A nova sociedade digital reflete a força da internet e seu imenso impacto de oportunidades infinitas.

            Sendo assim, os novos paradigmas dos educadores também mudam e ficam em xeque os papéis tradicionais e os modos tradicionais de lecionar. O giz e lousa, portanto, o modo como um curso é conduzido, ficam prejudicados se apenas há uma abordagem tradicional. Deve o educador buscar novos modos e meios que são desafiadores – por vezes assustadores -, mas necessários para o questionamento dos papeis tradicionais, para a reflexão, mudança das atitudes e de paradigmas. Porém, essenciais, sobretudo, para a manutenção da qualidade.


[1] SEVCENKO, Nicolau. A corrida para o século XXI. No loop da montanha-russa. Companhia das Letras – 2001. PP. 30 e 31. – •         A desmontagem do Estado de bem-estar social –

[2] PINHEIRO, Patricia Peck. Direito Digital/ 4. Ed. ver., atual. e ampl. – São Paulo: Saraiva, 2010.p.64

[3]  WOOLF, Virginia. diary entry (15th November, 1918)

[4] SEVCENKO, Nicolau. A corrida para o século XXI. No loop da montanha-russa. Companhia das Letras – 2001. P.64

[5] http://www.youtube.com/watch?v=ZMMDuIU3U2Y (“We all want to be Young”)

Sobre ricardonagy

USP/PUC-SP. Bacharel em Direito PUC-SP. Pós-graduado em Direito Processual Civil e em Direito Civil pela EPM-TJSP. Bacharel e Licenciado em Letras Inglês/Português USP. Pós-graduado em Tecnologias Interativas Aplicadas à Educação PUC-SP.
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