Interessante reportagem da ‘The Economist’ sobre o sistema de cotas no Brasil: ‘Affirmative Action in Brazil. Slavery’s Legacy.’ Comparando a notícia da Folha do dia 28/04/2013, ‘Cotistas têm desempenho inferior entre universitários’, chamou-me a atenção as duas manchetes e a discussão sobre o sistema meritocrático ou por cotas.
A reportagem da ‘The Economist’ afirma que os cotistas, estatisticamente, têm menos faltas nas aulas, abandonam menos os cursos e, mesmo a reportagem da manchete sensacionalista da ‘Folha’ mostra que os universitários que ingressaram por meio de ações afirmativas tiraram em média uma nota inferior em torno de 9,3% em relação aos outros egressos (as notas dos estudantes do sexo feminino costumam ser 10% maiores que as do sexo masculino). O que chama a atenção é o poder formador de opinião distorcida e parcial que uma manchete sensacionalista como essa pode ter. Nessa mesma reportagem o tom é bem mais ameno:
“Encontramos diferenças razoáveis. Não são catastróficas como previam alguns críticos das ações afirmativas, mas é importante registrar que existe uma diferença para não tapar o sol com a peneira”, diz Waltenberg.
Mas, infelizmente, as pessoas teriam que LER o teor da reportagem, não só a capa, que é o suficiente para um legado de opiniões superficiais se manifestarem em redes sociais. Em editorial da mesma Folha, em 30/04/2013 o tom explicava o estudo como deveria ter sido explicado:
O objetivo das cotas, a meu ver, é trazer uma essencial reparação histórica, como faz os EUA com os índios, a Austrália com os aborígenes e a Irlanda com toda uma geração da década de 80 que foi privada do acesso à educação.
Em recente reportagem sobre a faculdade Zumbi dos Palmares nesta última semana de abril, o diretor apontou que o grande objetivo da faculdade é que sua necessidade seja uma página virada assim que a disparidade for amenizada.
Assim, os Estados Unidos querem abandonar o sistema de cotas, mas não nos esqueçamos que eles tiveram Martim Luther King lutando na década de 60 por igualdade de direitos. O Brasil ainda engatinha nesse aspecto. Seria mais racista dar cotas ou impedir o acesso ao argumento de fomentá-lo? Creio que estudando um pouco nossa história e olhando nossos alunos não é difícil chegar à conclusão de que existe algo de muito errado em sua composição, que não reflete a ‘educação gratuita e de qualidade para todos’ conforme nossa Constituição.
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