Cotas. O legado da escravidão. Desempenho. Sensacionalismo. Reportagem ‘The Economist’ e ‘Folha’. ‘Jim Crow Laws’. Somos os 10%!

jim crow help wanted jim crow laws jim crow help wanted 2Interessante reportagem da ‘The Economist’ sobre o sistema de cotas no Brasil: ‘Affirmative Action in Brazil. Slavery’s Legacy.’ Comparando a notícia da Folha do dia 28/04/2013, ‘Cotistas têm desempenho inferior entre universitários’, chamou-me a atenção as duas manchetes e a discussão sobre o sistema meritocrático ou por cotas.

A reportagem da ‘The Economist’ afirma que os cotistas, estatisticamente, têm menos faltas nas aulas, abandonam menos os cursos e, mesmo a reportagem da manchete sensacionalista da ‘Folha’ mostra que os universitários que ingressaram por meio de ações afirmativas tiraram em média uma nota inferior em torno de 9,3% em relação aos outros egressos (as notas dos estudantes do sexo feminino costumam ser 10% maiores que as do sexo masculino). O que chama a atenção é o poder formador de opinião distorcida e parcial que uma manchete sensacionalista como essa pode ter. Nessa mesma reportagem o tom é bem mais ameno:

                                                “Encontramos diferenças razoáveis. Não são catastróficas como previam alguns críticos das ações afirmativas, mas é importante registrar que existe uma diferença para não tapar o sol com a peneira”, diz Waltenberg.

Mas, infelizmente, as pessoas teriam que LER o teor da reportagem, não só a capa, que é o suficiente para um legado de opiniões superficiais se manifestarem em redes sociais. Em editorial da mesma Folha, em 30/04/2013 o tom explicava o estudo como deveria ter sido explicado:

Foi precisamente o resultado encontrado por Fábio Waltenberg e Márcia de Carvalho, da Universidade Federal Fluminense, com base no Enade (Exame Nacional de Desempenho de Estudantes) de 2008. As notas de 167.704 alunos que concluíam a graduação revelaram que os cotistas tiveram avaliações 9% a 10% menores que não cotistas, dependendo da instituição.

Salta aos olhos que a defasagem não seja muito significativa. Para comparação, basta mencionar que estudantes do sexo feminino costumam ter notas 10% superiores às de colegas masculinos.

Outro estudo, com egressos da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (pioneira na introdução de cotas), encontrou diferencial similar (8,5%) e uma tendência surpreendente: mais cotistas (47%) se formam do que não cotistas (42%).

O objetivo das cotas, a meu ver, é trazer uma essencial reparação histórica, como faz os EUA com os índios, a Austrália com os aborígenes e a Irlanda com toda uma geração da década de 80 que foi privada do acesso à educação. 

Em recente reportagem sobre a faculdade Zumbi dos Palmares nesta última semana de abril, o diretor apontou que o grande objetivo da faculdade é que sua necessidade seja uma página virada assim que a disparidade for amenizada.

Assim, os Estados Unidos querem abandonar o sistema de cotas, mas não nos esqueçamos que eles tiveram Martim Luther King lutando na década de 60 por igualdade de direitos. O Brasil ainda engatinha nesse aspecto. Seria mais racista dar cotas ou impedir o acesso ao argumento de fomentá-lo? Creio que estudando um pouco nossa história e olhando nossos alunos não é difícil chegar à conclusão de que existe algo de muito errado em sua composição, que não reflete a ‘educação gratuita e de qualidade para todos’ conforme nossa Constituição.

Sobre ricardonagy

USP/PUC-SP. Bacharel em Direito PUC-SP. Pós-graduado em Direito Processual Civil e em Direito Civil pela EPM-TJSP. Bacharel e Licenciado em Letras Inglês/Português USP. Pós-graduado em Tecnologias Interativas Aplicadas à Educação PUC-SP.
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